24 julho 2011

Dojo e Capoeira 2 - A Lógica do Toma Lá Da Cá


Continuo nesse post a reflexão iniciada semana passada sobre o paralelo entre a prática do coding-dojo e a lógica de reconhecimento nos grupos de capoeira. Esse post introduz o equilíbrio sistêmico necessário para manter vivo uma iniciativa - um dos pontos centrais da idéia que estou tentando defender aqui.
Se enxergarmos o ser humano e a sociedade como sistemas complexos, podemos observar alguns ciclos de energias fundamentais para a sobrevivência de seus elementos. O exemplo mais banal é o trabalhador que recebe em troca seu salário. Outra troca um pouco mais sutil ocorre no relacionamento entre um homem e uma mulher. Cada um coloca um pouco de si no casal, e o casal suporta os dois de várias formas. Uma pessoa estudando violão, fazendo escalas e machucando seus dedos é recompensado pelo elogio de um amigo, pela alegria das pessoas cantando junto, ou pelo prazer de meditar sobre o instrumento interpretando uma música pra si mesmo. Se a recompensa pelo esforço não corresponder, a pessoa abandona o violão no canto.

Mestre Bimba
Uma iniciativa qualquer que alguém tenha, digamos, para motivar um grupo de amigos a almoçar juntos na sexta, funciona como um complexo de trocas. A pessoa investe um pouquinho, sugerindo o programa. Alguém gosta da idéia mais que os outros e retribui dizendo que topa. Esse pequeno retorno motiva o cara a procurar um restaurante na internet e começar a descreve-lo para o grupo. Alguém faz uma piada, entra na conversa, faz um comentário. É o suficiente pro cara levantar e ligar reservando. Se a primeira pessoa não tivesse topado, o cara tinha desanimado e a iniciativa tinha morrido.

É como um pequeno empreendimento. Você investe um dinheirinho e vê no que dá. Se der retorno, você ganha confiança e investe mais um pouquinho. A gente usa o feedback do sistema pra decidir se continuamos nesse caminho ou se mudamos.

Acontece também com o programador que contribui com um projeto open-source. A retribuição do trabalho vem na forma de reconhecimento dentro da comunidade. Ninguém continua eternamente comitando num projeto que não está tendo uso. Se aparece um usuário, a gente já se motiva a responder um email, ou quem sabe ajudar o cara a instalar. Se surge outro e outro usuário, a gente já anima de mexer no código, deixar a página do projeto atualizada e fazer alguma correção.

Depois de muito refletir sobre essas trocas acontecendo em diversos aspectos da minha própria vida, cheguei à conclusão de que as iniciativas que vão pra frente são aquelas que mantém ciclos virtuosos que se reforçam, num equilíbrio fino entre duas variáveis principais:

Comprometimento <=> Reconhecimento

Tenho a impressão de que sociedade do Dojo vive um certo desequilíbrio nessa fórmula. Ir ao Dojo, preparar Katas, ajudar os iniciantes, arrumar um lugar, preparar o projetor, pedir a pizza, reservar o horário na agenda. Tudo isso representa uma boa dose de comprometimento por parte das pessoas. O reconhecimento, por outro lado, talvez não esteja sendo o suficiente.

Semana que vem vou tentar encaixar isso com a lógica do Dojo, do caminho do principante Zen, das artes orientais. Afinal de contas, essa lógica imediatista de retorno não é o único motivo pelo qual a gente participas de Dojos. É?

Continue lendo a próxima parte >>

Um comentário:

  1. Muito bom, cara.

    Tem um thread no grupo do yoDojo que começou com um de nossos parceiros perguntando sobre pós, para que o pessoal que conhecessem ou tivessem feito alguma, o ajudasse a escolher.

    Enfim, a thread foi mudando o foco logo no começo e acabou virando uma discussão muito boa sobre esse conceito de titulação que tu levanta aqui. Foi ai que eu indiquei a primeira parte dessa sua jornada e, acredite, todos estávamos esperando essa segunda, para continuar discutindo :D

    Estamos no processo de bootstrapping do nosso dojo e ainda não vejo essa lógica de retorno imediato na galera que ta participando. Na verdade a ideia central era trazer um pouco do conceito de agilidade aqui pra Cuiabá e, principalmente, injetar a fodalidade do TDD, pois, até onde foram minhas pesquisas, nínguem usa profissionalmente por aqui (acreditem).

    Quando fui trabalhar no Estado e passei a ficar um pouco afastado de código, minha vontade de organizar os dojos agravou mais ainda. Mas foi mesmo depois do Agile Brazil que, realmente, nos reunimos e, essa semana, vamos para 3o reunião vindo de 2 incríveis.

    Estou esperando a terceira parte ;)

    Abraço

    @DadoCe

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