Na semana passada, falei do ciclo Comprometimento <=> Reconhecimento que mantém vivas as iniciativas que vão pra frente. Hoje pretendo falar um pouco mais sobre o desequilíbrio que existe na sociedade do Dojo, relacionado a essa fórmula. Pretendo também apresentar outro ponto de vista que faz parte desse cenário: o de que devemos participar dos Dojos sem esperar nada em troca, pelo simples fato de participar - deliberadamente. Assim, explicitar e reforçar esse equilíbrio talvez não seja benéfico para a prática do Dojo!
Creio que essa fórmula Comprometimento <=> Reconhecimento valha em qualquer cultura, mas na nossa sociedade ocidental, materialista, ela costuma se manifestar de forma especialmente explícita e imediata. A criança precisa ganhar um chocolate porque arrumou o quarto e o funcionário precisa ganhar um aumento rapidamente em troca de uma iniciativa importante que teve no trabalho. O retorno precisa ser rápido e explícito. É a forma como nossa cultura nos ensina.
Vejo vários grupos que acham a idéia do Dojo linda, se motivam, criam uma lista, realizam alguns encontros, e algumas semanas depois a iniciativa vai perdendo adeptos, perdendo energia, e aí morre. Estou devendo pro Henrique uma pesquisa nas listas de Dojo brasileiras sobre o tempo médio de permanência das pessoas nas reuniões de Dojo. Acho que deve ser bem pequeno... Imagino umas 3 ou 4 sessões semanais, no máximo!
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Mestre Valdemar da Paixão |
Minha hipótese é a de que a sociedade do Dojo está sentindo falta de reconhecimento, pra balancear a mistura. Um sinal muito claro disso é o fato de que as pessoas simplesmente a-do-ram colocar fotos nos blogs e tuitar quando vão a reuniões de Dojos. Assim como o que as pessoas fazem depois de assistirem a um cursinho de Scrum, chegar na empresa e pregar o kanban na parede: a primeira coisa a fazer depois de grudar os post-its, invariavelmente, é tirar uma foto e postar no blog. Por quê? Na minha opinião, as pessoas estão procurando (pedindo!) um retorno pela pequena conquista que tiveram. E nesse caso, assim como no do cara aprendendo a tocar violão, se o feedback positivo não vier (um comentário, um elogio) a iniciativa acaba morrendo...
Esse pensamento não tem absolutamente nada a ver com a ética do caminho do principante, da arte Zen, ou com outras manifestações culturais em que o importante não é a chegada, mas o caminho! É um pensamento muito nobre e bonito, que reconhecemos imediatamente como bom, e que tentamos importar pra nosssa cultura algumas vezes. É o que nos foi apresentado desde meninos em filmes como Karatê-Kid. "Daniel San, lixa o assoalho! Pinta a cerca!" Não importa o objetivo. O ponto não é a cerca pintada. Não se preocupe com o objetivo final, concentre-se no caminho que o resto acontecerá.
Mas ainda que reconheçamos a qualidade dessa ideologia, vivemos impregnados e imersos com os valores de nossa cultura. As pessoas acham linda a idéia do Dojo. Mas quando chega a hora H, depois do trabalho, o cara prefere ir ao cinema. O mesmo não acontece com a pós-graduação, que é paga e tem um diploma no final. (Perceba que o Dojo nem ao menos tem um final definido! São lógicas que não se encaixam uma na outra, pelo menos a princípio.)
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Roda do Mestre Valdemar |
No próximo post dessa série, pretendo elaborar melhor esse ponto da dicotomia entre o popularizar e o preservar (o que gosto de chamar de "o dilema do turista"). É onde quero criar o gancho com a história da capoeira, que passou por um processo bastante semelhante, no meu ponto de vista.
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Tuite isso!
Estamos aguardando o próximo post :D
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