04 setembro 2011

Dojo e Capoeira 6 - Ações Práticas



Durante os últimos dois meses, estive escrevendo essa série de posts que manifestam uma opinião e um desejo de que o valor da prática do coding-dojo seja reconhecida como merece. Nesse post, pretendo concluir a série traçando a linha de pensamento que relaciona os outros posts, e tentar enfim ser um pouco prático e concreto, explicando minha idéia de atuação no desenvolvimento social da prática por meio do DojoSpot.

O sistema educacional tradicional não atende mais a nossa sociedade em rede, mas as pessoas continuam escolhendo pagar pós-graduação de faixada a freqüentar as sessões de dojo, ainda que admirem a metodologia do dojo. Foi o assunto que introduzi no primeiro post.

Nesse sentido, o movimento do dojo ainda não conseguiu encontrar o fino equilíbrio entre duas variáveis fundamentais: comprometimento e reconhecimento. As pessoas se dedicam ao dojo, organizando e participando das sessões, mas não se sentem reconhecidas o suficiente para sacrificarem seus fins de semana. Creio que esse equilíbrio pode ser um ponto de alavancagem importante para elevar nossa prática em termos de reconhecimento social, como defendi no segundo post.
Mestre Luiz Renato e eu, na minha formatura de monitor

É claro que as pessoas não participam do dojo só por reconhecimento. Nem parece saudável que assim o seja. Não devemos cultivar a idéia de que a motivação principal para participar de dojos seja o reconhecimento. As pessoas precisam continuar participando das sessões deliberadamente, por estarem de fato profundamente interessadas na ludicidade da atividade. Foi o assunto do terceiro post.

Uma intervenção na organização dos grupos, que eventualmente possa causar a popularização da prática, poderá trazer alguns efeitos colaterais negativos, não há dúvidas. Devemos ter muito cuidado e zelo pra não destruirmos a praia deserta que achamos, enchendo ela de turistas gafanhotos, na linha do que defendi no quarto post.

Mas ainda que alguns prejuizos possam acontecer ao longo desse caminho (e acho que acontecerão!), entendo que muitas outras conquistas grandes (e até bem impensáveis pela maioria de nós) podem acontecer, assim como acho que aconteceram com a Capoeira, como expliquei no quinto post.

'E sem saber que era impossível, ele foi lá e fez...'
(Jean Cocteau) (via Be)

Ainda que os grupos de dojo venham a se dividir em modernistas e tradicionalistas (regional e angola), acredito que no balanço geral vamos sair ganhando se acharmos uma negociação saudável entre os princípios do dojo e o imediatismo ocidental. É melhor começarmos a nos movimentar logo, antes antes que alguém acabe achando um jeito de enriquecer com a coisa (ou, se preferirem, "antes que um aventureiro lance mão").


Sendo prático, enfim ;-)

Minha sugestão é a de que tentemos retribuir o comprometimento das pessoas com o dojo, por meio de um sistema que tangibilize a reputação, parecido com as cordas da Capoeira ou como o que faz StackOverflow, por exemplo. Creio que à medida em que as pessoas se sintam retribuidas, elas passem a participar mais (e melhor) das sessões, aumentando assim a reputação do dojo em si. À medida em que o dojo se torne mais respeitado, os participantes com maior reputação também se tornarão.

A respeito do sistema de reputação, creio que precise ser muito bem pensado e adaptado ao longo do tempo para que se valorize as coisas certas, para que os princípios certos sejam cultivados. Creio que a regra do jogo influencie de modo determinante o comportamento dos jogadores e o desenrolar da partida.

E como os valores e princípios 'certos' a serem cultivados são relativos, acho que precisamos de um sistema que permita a manifestação da diversidade de visões, bem ao modo open-source. Se eu mantenho um dojo, e crio uma regra de reputação com a qual você não concorda, basta reunir as pessoas que concordam com você e criar outro grupo que funciona com outras regras.

E é exatamente o que vejo que acabou acontecendo com a Capoeira e seus grupos. No meu grupo, valoriza-se compromisso, respeito, e criatividade, e portanto capoeiristas que jogam com lealdade e criatividade, e não faltam treinos, podem conseguir uma corda de professor. Em grupos que valorizam apenas a combatividade e a destreza física, eu provavelmente não teria conseguido alcançar a corda que tenho. Ambas as visões estão corretas, e ao meu ver devemos achar mecanismos que valorizem a diversidade, ao invés da padronização.

E pra não ficar só no discurso vazio foi que comecei meu ativismo contribuindo para o dojo-brasília e criando uma primeira versão (ainda bem crua) do que acho que pode ser o sistema por trás dessa idéia: o DojoSpot, que como não podia deixar de ser, é de domínio-público (open-source) para que seja adaptado do jeito que for necessário.

O DojoSpot, por enquanto, ainda não tem nenhum tipo de reputação. Apenas permite que as pessoas marquem uma sessão e que confirmem sua participação nela. A próxima funcionalidade que pretendo acrescentar é o registro de presença, que acho que deve ser o primeiro critério de valorização a se expressar na página de participantes.

Durante o OpenSpace da AgileBrazil2011 ouvi outras sugestões que adorei, das quais destaco duas:

1) O botão de 'obrigado' que permitirá que, a cada sessão, as pessoas distribuam dois agradecimentos aos participantes de quem considerariam ter aprendido alguma coisa valiosa naquela sessão; e

2) A utilização de 'badges' que premiam as pessoas que cumpriram certos critérios de contribuição específicos. Por exemplo, 'batizado' poderia ser concedido à pessoa que tem 10 presenças e um kata apresentado; 'Anfitrião' à pessoa que organizou ou hospedou mais de 5 dojos; e por aí vai...

Por enquanto, se você estiver com vontade de contribuir e não souber como, acho que uma primeira ajuda importante poderia ser a instalação e a utilização do sistema em outros dojos, para melhorarmos a documentação sobre como instalar, como adaptar o layout, e etc.

Fora isso, qualquer tipo de sugestão ou crítica será recebida com festa!

Correções, adaptações ou melhorias poderão sempre ser feitas à vontade, seguindo a lógica do Github.


Isso encerra essa seqüência de posts, bem ao meu estilo (como o Silvano notou outro dia) filosófico, abstrato e repentinamente conclusivo (rs).
Agradeço imensamente pela atenção de quem chegou até aqui, e reitero que adoraria que a discussão continuasse e se desenvolvesse na lista de emails que criamos. Participe lá, que no mínimo ajuda com a minha motivação pessoal ;-)
o/